Porque presente, chama-se PRESENTE!
No Discurso Os Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena, o Buda propõe quatro objetos para a prática da atenção plena: o corpo, as sensações, a mente e os objetos da mente. Monges e monjas de muitos países budistas decoram este discurso, e esse texto também é lido para eles quando estão próximos da morte. Ler o Discurso Os Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena pelo menos uma vez por semana pode ser muito útil, juntamente com o Discourse on the Full Awareness of Breathing e o Discourse on Knowing the Better Way to Live Alone. Talvez você queira manter estes três livros em sua cabeceira, e levá-los com você quando viajar.
Os Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena são o alicerce de nossa casa. Sem eles, a casa fica abandonada. Não há ninguém para varrer, limpar ou arrumar. Nosso corpo fica maltratado, os sentimentos repletos de sofrimento e a mente uma pilha de aflições. Quando estamos realmente em casa, nosso corpo, mente e sensações são um local de refúgio para nós e para os outros.
O primeiro estabelecimento é "a atenção plena do corpo no corpo". Muitas pessoas detestam seus corpos. Acham que o corpo é um obstáculo, e querem maltratá-lo. Quando a irmã Jina, uma monja de Plum Village, ensina ioga, ela sempre começa dizendo: "Vamos tomar consciência de nossos corpos. Inspirando, eu tenho consciência de estar em meu corpo. Expirando, eu sorrio para meu corpo." Praticando desta forma, nós renovamos o conhecimento do corpo e fazemos as pazes com ele. No Kayagatasati Sutta, o Buda oferece vários métodos para nos ajudar a ter consciência do que acontece no corpo. Passamos a observar de forma não dualista, estando presentes no corpo durante a observação. Começamos prestando atenção a todas as posições e movimentos do corpo. Quando nos sentamos, percebemos que estamos sentados. Quando ficamos de pé, quando caminhamos ou quando nos deitamos, sabemos que estamos de pé, caminhando ou deitados. Quando praticamos desta forma, a atenção plena está presente. Esta prática é chamada "simples reconhecimento".
A segunda forma que o Buda nos ensinou para praticar a atenção plena ao corpo no corpo é reconhecer todas as partes de nosso corpo, do alto da cabeça até as solas dos pés. Se temos cabelo louro, reconhecemos este fato e sorrimos para isto. Se o cabelo é grisalho, também reconhecemos este fato e sorrimos. Observamos se nossa testa está relaxada ou se tem sulcos. Com atenção, passamos pelo nariz, boca, braços, coração, pulmões, sangue, e assim por diante. O Buda comparou a prática de reconhecer as trinta e duas partes do corpo a um fazendeiro que vai até o celeiro, pega um saco de cereais, coloca-o no chão e esparrama seu conteúdo, passando a separar o que é arroz, o que é feijão, o que é gergelim, e assim por diante. Desta forma, reconhecemos os olhos como sendo os nossos olhos, e os pulmões como os nossos pulmões. Podemos fazer isso durante a meditação sentada ou mesmo deitados. Podemos varrer o corpo com a atenção plena durante meia hora, observando cada parte e sorrindo para ela. O amor e o cuidado contidos nesta meditação têm enorme poder de cura.
O terceiro método sugerido pelo Buda para a prática da atenção plena ao corpo no corpo é observar os elementos dos quais o corpo é composto: terra, água, fogo e ar. "Ao inspirar, vejo o elemento terra em mim. Ao expirar, sorrio para o elemento terra em mim." O elemento terra consiste em tudo o que é sólido. Quando vemos o elemento terra dentro e fora de nós, percebemos que realmente não existem divisões entre nós e o resto do universo. A seguir, reconhecemos o elemento água dentro e fora de nós. "Inspirando, tomo consciência do elemento água em meu corpo." Meditamos sobre o fato de que nosso corpo é composto de mais de setenta por cento de água. Depois disso, reconhecemos o elemento fogo, que representa o calor, dentro e fora de nós. Para que a vida seja possível, tem que haver calor. Praticando isto, percebemos novamente que os elementos dentro e fora do corpo pertencem à mesma realidade, e que não estamos realmente confinados pelo corpo. Estamos em toda a parte.
O quarto elemento do corpo é o ar. A melhor forma de experimentar o elemento ar é praticar a respiração consciente. "Inspirando, eu sei que estou inspirando. Expirando, eu sei que estou expirando." Depois de dizer isso, podemos resumir dizendo simplesmente "Inspirando" e "Expirando". Não tentamos controlar a respiração. Quer a inspiração seja longa ou curta, rasa ou profunda, nós apenas respiramos naturalmente e irradiamos a luz da atenção plena sobre ela. Ao
fazer isto, percebemos que, de fato, nossa respiração se torna naturalmente mais lenta e mais profunda. "Ao inspirar, minha inspiração torna-se profunda. Ao expirar, minha expiração torna-se lenta."
Agora podemos praticar o "Profundo/Lento". Não precisamos mais fazer nenhum esforço. A respiração se torna mais lenta e mais profunda por si mesma, e nós apenas reconhecemos o fato.
Mais tarde, você perceberá que se tornou mais calmo e que está mais descansado. "Inspirando, sinto-me calmo. Expirando, sinto-me descansado. Não estou mais lutando. Calmo e descansado." Então: "Ao inspirar, eu sorrio. Ao expirar, eu solto todas as minhas preocupações e ansiedades. Sorrir/soltar." Conseguimos sorrir para nós mesmos e soltar as preocupações. Existem mais de trezentos músculos no rosto, e quando sabemos como respirar e sorrir, estes músculos podem relaxar. Essa é a "ioga da boca". Ao sorrir, soltamos todas as nossas sensações e emoções. A última prática é: "Inspirando, estou no momento presente. Expirando, sei que este momento é maravilhoso. Momento presente/momento maravilhoso." Nada é mais precioso do que estar no momento presente, totalmente vivo e perfeitamente consciente.
Inspiro, expiro
Profunda, lenta
Calma, à vontade
Sorriso, alívio
Momento presente, momento maravilhoso.
Se você usar este poema durante a meditação sentada ou caminhando, ele se revelará muito nutritivo e curador. Pratique cada linha pelo tempo que desejar.
Outra prática que ajuda a ter consciência da respiração é contar. Ao inspirar, conte "um" e ao expirar conte "um" de novo. A seguir, "Dois/dois", "Três/três", até chegar a dez. Depois disso, inverta o sentido, contando "Dez/ dez", "Nove/nove", e assim por diante, até voltar ao um. Se não se perder no caminho, saberá que tem boa concentração. Se por acaso se perder, volte ao "um" e recomece.
Relaxe, é apenas um jogo. Quando conseguir contar até o fim, pode abandonar os números, e apenas dizer "inspirar" e "expirar". A respiração consciente é um grande prazer. Quando descobri o Discourse on the Full Awareness of Breathing, achei que eu era a pessoa mais feliz do mundo. Estes exercícios nos foram transmitidos por uma comunidade que os vem praticando há mais de 2.600 anos.
(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)
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